28.6.05

Nostalgia II

Porque hoje
o cinza é a única
sensação que me cabe.

27.6.05

Nostalgia

Porque me desfazer das minhas lembranças,
seria me desfazer de mim mesma.

25.6.05

Dona Flor e seus Dois Maridos

Naquela noite, chamaram-na de "Dona Flor e seus Dois Maridos".
Alguns tentavam acusá-la de serem três maridos.
Mentira. Ela desmentiu e riu.
Riu de ser chamada de Dona Flor.
Riu da idéia de ter dois [ou três] maridos.
O fato é que todos sabiam: naquela noite, ela tinha sim dois maridos.

E entre muitas risadas, ela começou a pensar naquela idéia.
Olhava pros dois e tinha certeza quem era Teodoro e quem era Vadinho.
Teodoro é aquele que traz de volta a paz à vida de Dona Flor.
Vadinho é aquele que sempre volta para fazer Dona Flor cair em tentação.

Teodoro é comportado. Controlado.
Vadinho é o adorável cafajeste.

Naquela noite, ela tinha seu perfeito equilíbrio:
de um lado Teodoro e do outro, Vadinho.

Se sentiu realmente Dona Flor, quando foram embora
e imaginou uma cena lhe acontecendo:
Ela de mãos dadas com Teodoro, e do seu outro lado, Vadinho,
nu [como sempre] e invisível aos outros, apertando a sua bunda.

Naquela noite, ela era Dona Flor e seus Dois Maridos.

23.6.05

Yêda Shmaltz

Os óculos

Eu amo o homem de óculos.
Eu amei todos os homens de óculos.

Pra mim,
a parte essencial,
a parte inevitável do homem,
é plural:
são os óculos.

Porque os óculos sempre participam
do meu amor,
barroco amor em crise;
os óculos são um fetiche:
há sempre o momento
dos óculos fazerem strip-tease
e daí o homem fica vesgo de amor
e os olhos do homem
ficam trasprafrente,
transparentes.

Eu amo a mais
os homens vesgos e estrábicos
e estigmáticos.
A tortura dos olhos do homem
me tortura,
me estigmatiza.

(Ah, toda a doçura,
toda a pieguice,
toda a gostosura
que há na vesguice...)

Porque é sério,
é muito sério mesmo, meu poeta,
o homem atrás dos óculos;
mas quando ele os retira,
se transforma, há um pretexto
pra ficar o outro homem
e a gente ama
como se cometesse um incesto.

Eu amo os homens de óculos
porque foram capazes de se cegarem
diante de mim e de me amar (amarem?)
de me amar sem nenhuma visão,
que a do seu próprio e mais cego
coração
(a grandiosa visão de um só momento).

Eu amo os homens
que foram capazes
de me enxergar
por dentro.

20.6.05

Denúncia

Fui roubada.
Levaram minhas palavras.
Escritas, pensadas, declaradas...
Levaram as páginas em branco
Por onde a inspiração passou longe.

E quem me roubou
Levou consigo meus rascunhos...
de cartas de amor.
Das mais ridículas...
Das jamais entregues.

Fui roubada.
E meus danos não foram materiais.

[Isso é que dá... ser sentimental]
E eu que costumava duvidar
da eternidade,
Agora, questiono a finitude
desse carinho...
E no silêncio da madrugada,
Meus pensamentos berram
As lembranças de nós dois...
Que diabos de felicidade é essa em mim?!
Ontem, foi aniversário dela...
Uma semana feliz.

Pode?!

15.6.05

Espirros

Ela espirrava de um jeito estranho.
Fazia um barulho difícil de se explicar.
Mas, ele adorava.
Sempre que ouvia aqueles espirros, ele se virava pra ela e sorria.
Ela, sorria de volta.
Ele costumava dizer que assim que ela espirrava, ela ficava com "uma cara muito bonitinha".
Ela achava isso estranho.
Mas, sempre que via aquele sorriso no rosto dele, era inevitável: sorria também.

13.6.05

Eu

gosto é do estrago...

Reencontros (desencontrados)

Havia algo de não dito
naquele sorriso.
Algo que aquela despedida
traduzia em miúdos de silêncio

[miúdezas perdidas em atos de desconcerto]

Havia algo de implícito
naquela partida:
talvez um desejar-se mútuo
uma saudade bonita e dolorida
a falta (?) de poesia
ou só uma recordação apagada
pelas marcas do passado.

Mas, o que não era dito,
era visto e vivido:
aquela velha reciprocidade de carinhos.

Lapsos sentimentais

Eu conheço esse outro mundo
Essa outra porção do espaço
Onde eu me sinto livre
Aprisionado nos seus braços

Eu

sou até uma pessoa bem legal...

7.6.05

Nota de Falecimento

Minha poesia está morta.
Escorreu por entre lágrimas dolorosas
E se perdeu.
Morreu...

Evaporou-se na desesperança.
E se misturou à fumaça amarga
daquele cigarro intragável.
Foi tragada pela tristeza...

Morreu sufocada pelo não dito.
Pelo silêncio das palavras esquecidas.
Sufocada pelo grito ensurdecedor
de sua própria dor.

Morreu afogada em mágoas.
Ensanguentada por feridas abertas.
Envergonhada e esquecida.
Agonizante em estado terminal.

Morta.
Minha poesia está morta.
E não ressurgirá de cinza alguma.
Pois que cinza ela já é.

6.6.05

Recomeçar

Mas é tudo novo de novo
Vamos nos jogar onde já caímos
Tudo novo de novo
Vamos mergulhar do alto onde subimos


Claro...
Moska de novo.

3.6.05

Boêmia

Todo fim de semana.

Durante a semana,
dia sim, dia não.

Madrugada.
Música.
Bebida.
Cigarro.
Companhia.
Extravagância.
Poesia.
Filosofia.
Amor.
Sexo.
Amor.


boêmia

Sono.
Dor de cabeça.
Ressaca.
Cansaço.
Solidão.
Preguiça.
Rima.
Bobagem.
Amor.
Sexo.
Dor.

Aniversário

Porque os melhores presentes foram os abraços apertados. Daqueles de estalar os ossos. De preferência, verdadeiros. E demorados também.

Porque os melhores presentes foram as mensagens beirando a meia-noite. Aquelas acompanhadas de um sorriso [bobo] meu.

Porque os melhores presentes foram as risadas compartilhadas. O cigarro, a cerveja e o bolo de aniversário no bar. A companhia...

Porque os melhores presentes foram os chocolates, a violeta e Bjork. Foram os presentes adiados e os não dados. E os imaginados...

Presentes de aniversário.